26 de março de 2013

Todo topless será castigado: a nudez vestida e os Wait Watchers





Amina - a censura ao bico dos seios foi feita no site da TVI-24


“O meu corpo me pertence e não representa a honra de ninguém”. Por ter estampado esta frase no peito e no Facebook, Amina, uma garota tunisiana de 19 anos, integrante do movimento Femen (movimento em que feministas utilizam a nudez como plataforma de protesto), foi condenada à morte por açoites e apedrejamento.

A denúncia da jovem foi feita por um hacker que substituiu a imagem de Amina, e de uma outra seguidora do Femen, por versículos do Corão. Ele alterou a fotografia do perfil da ativista pela de um homem de peito nu, no qual estava escrito "Maomé, o enviado de Alá".

Amina mesma observou que tamanho alarde se deu somente por ter utilizado o corpo nu como veículo da mensagem. “Se estivesse escrito numa camiseta, o slogan passaria despercebido. Eu quero que a mensagem seja lida. O corpo de uma mulher é dela, não do seu pai, seu marido ou do seu irmão”.

O caso Amina aponta para uma realidade que muitos acreditam pertencer exclusivamente aos ambientes de tradição islâmica. Mas, o Ocidente, que alardeia, desde a Revolução Francesa, ser porta-voz da liberdade, da igualdade e da fraternidade, não mantém uma relação tão amistosa com a liberdade de expressão e, tampouco, com a liberdade corporal.

Gestos são monitorados com secreto requinte e os indícios sinalizados pela postura e pelos movimentos são, comumente, elevados ao status de símbolo, como se fossem impressões digitais da essência. Procura-se nos gestos uma desculpa para lavrar nas pessoas o atestado de uma identidade irrevogável que, trajando a sede pela tirania, segue desfilando na passarela da tolice.

Hitler afirmava que começou a nutrir repúdio pelos judeus depois de observar um grupo deles conversando e analisar seus gestos e suas roupas.  Esta torpe desculpa é reproduzida por muitos de nós cotidianamente e nos leva a injetar pequenas e contínuas doses de pena de morte nos que não preenchem os padrões que nós, isto é, a Coca-Cola, a Mac, a Animale, a Chanel, a Dior..., “elegemos” antes do primeiro turno. E ditadura pior é a tendência atual de migrar a obsessão pela padronização do genérico para o detalhe. Surge o questionamento de como, diante da informação profusa e mutante, encontrar a combinação “correta” de detalhes que tenta fazer do mais “infinito particular” um padrão.

A época atual está mostrando que a nudez não significa tanto o tirar a roupa. Pois a nudez do nu já se tornou a pesada vestimenta do convite obrigatório à sensualidade. A nudez hoje está no desafio aos julgamentos ”silenciosos”, no enfrentamento da tirania do gesto. Esta é a nudez que, em Amina, foi condenada à morte.

Até mesmo no seio do Femen, a nudez tem sido castigada. Ex-integrante do Movimento,  a brasileira Bruna Themis conta que grupo rejeita a participação de mulheres “acima do peso”.

Outra Amina que também teve a "nudez" ameaçada de morte foi a nigeriana Amina Lawal Kurami. Ela foi acusada de adultério e de conceber fora do casamento, tendo sido condenada à pena capital de linchamento. Isso com base numa interpretação extremista de textos da tradição islâmica. Felizmente, em 2003, com auxílio do clamor internacional, a sentença foi revogada. 

A fotógrafa americana, Haley Morris-Cafiero faz autorretratos não para fotografar a si mesma, mas para registrar o preconceito das pessoas ao redor, revelando a reação pública ao que parece fora do padrão. O resultado é o projeto Wait Watchers, que pode ser visto aqui.



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