O Anjo Observador
Projeto Cemiterial - Colorindo a Saudade Pintura do muro do Cemitério da Saudade de Piracicaba
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Forjei o mar por causa da mágoa das galáxias
Condenadas a andar eternamente a pé enxuto, embaladas à
vácuo
A não poder deixar sua pegada nas calçadas siderais
Inventei o universo para tentar que houvesse algo menor que
a saudade
Mar e Universo eram, contudo ou nada, frágil poesia: lento plágio
à procura de emprego
Tramei as guerras mundiais
Só para ter uma desculpa de importar da China o muro de
Berlim para amordaçar o murmúrio da saudade
O muro caiu vitimado por um ataque fulminante de abraços de
coração
Aos pés do muro em pedaços, minha cegueira mor deixou-se
calar
Na calada dessa noite, o sereno dos violões me tocou
A atmosfera desafinou quando a corda da saudade foi
dedilhada
Pelo sopro que Deus guarda em sua pupila para aliviar o
ardor do remédio
Que entra de penetra em nossas feridas
Só o espelho da saudade para me fazer enxergar que
A pupila do amor íntegro é um instrumento ao mesmo tempo de
cordas e de sopros e de prosa
E de reverso
A saudade não me dá de presente pessoas com garantia
estendida
Dá-me o defeito de fábrica contaminado por flores sem jeito
A saudade é a doença que cura
A saudade faz do alguém Alguém
E não há que se ter medo dela,
Pois ela é o carinho que não tem endereço
As asas que se libertaram dos anjos
Os céus que se libertaram do Paraíso
A liberdade que se libertou de si mesma...
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