12 de fevereiro de 2012

Quem for fã de Whitney Houston atire a primeira estrela: sobre a obrigação de brilhar

Whitney Houston cantando "I Didn't Know My Own Strength" na premiação American Music Awards de 2009  
Fonte: UOL Entretenimento



A Whitney Houston, com minha admiração



A fama, desde muito tempo, é um contrato, uma obrigação estabelecida entre partes. Uma destas partes, o ídolo; a outra parte é o algoz, ou seja, o fã.

A proximidade sonora entre as palavras fã e afã não é casual. O fã é aquele que é tomado pelo afã, isto é, por sentimentos de sofreguidão, afobação, aflição, ansiedade e uma parcela de zelo e cuidado.

As adjetivações utilizadas para demarcar a posição do ídolo, com relação ao fã, dão ideia do peso da obrigação que envolve estas duas partes contratantes. O ídolo é representado como uma estrela, ou seja, um ser de luz própria que tem de fazer da própria solidão combustível para cumprir a obrigação de brilhar continuamente.

É um brilho paradoxal, pois se exige do ídolo que ele reluza em plenitude, mas se cobra dele que seja capaz de, com sua luz, curar dores e vazios de pessoas vitimadas pela sombra do complexo de inferioridade.

E, quão cruel as demandas para o astro. Exige-se dele que seja, ao mesmo tempo, o pleno domínio da técnica e da emoção. O astro, como um artista na corda bamba, é obrigado, contratualmente, a não cair: no máximo leves oscilações para satisfazer a pequena dose de sanha sádica que há no coração do fã.

Tomando emprestada a expressão cunhada por Aldous Huxley, pode-se dizer que se espera do ídolo que ele seja um exímio engenheiro da emoção, capaz de ser, na medida exata, a tristeza, a alegria, a raiva, a quietude e, até mesmo, o ridículo, que, na medida certa, fará dele uma ousada “divindade”. Do ídolo é cobrado que seja um exímio chef de cuisine, que serve a si mesmo como prato principal na pedra de sacrifício dos vazios do ser humano.

Como se sabe, as estrelas que brilham no Céu já estão, em sua maioria mortas. A luz que vemos é um efeito retardado do brilho que viaja milhares de anos-luz até impressionar nossas retinas.  Nessa constatação, percebe-se como as metáforas que utilizamos podem esconder secreta crueldade.  Aqueles obrigados a brilhar, ao aceitarem o pseudônimo de astros e estrelas, são a crônica de uma morte anunciada. 

Coroamos o astro com uma “plenitude” alicerçada nas nossas próprias frustrações. Esta“plenitude”  é edifício frágil erguido pelo som do aplauso e desmoronado pelo som da vaia. E, como diria Brecht, aplauso e vaia são igualmente impostores: refletem a cruel obrigação imposta aos ídolos: de serem eternidade erguida sobre escombros de frustração e efemeridade.

Como se situam as divas, os astros, os fenômenos, os gênios, as sumidades: situados às margens de paradoxos que querem tragá-los para o abismo?

A linda música One moment in time, interpretada por Whitney Houston, reflete alguns destes paradoxos. Exemplo é a cobrança, feita na letra desta canção, de que se seja vencedor a vida inteira: vencedor de uma vitória representada pela pressão de ser uns poucos instantes de “glória” congelados no tempo ou de ter sempre todas as respostas ou tornar a distância de realização dos sonhos menor que o intervalo entre um batimento cardíaco e outro.

O amor do fã traz num bolso secreto pedras preparadas para serem atiradas no ídolo. Estas pedras têm endereço certo: as marcas do tempo e o tédio que o fã projeta nos gestos do ídolo. O pecado do ídolo é aceitar deitar-se com as frustrações e o medo da morte, que assolam a humanidade cruel e sedenta.

Diferente da relação entre fã e ídolo é a admiração. Quando se admira alguém, coloca-se este alguém não na vaga de uma divindade que se tenta substituir. Como o prefixo “ad” indica, admirar é unir-se com outra pessoa em pensamentos, palavras, atos e, até mesmo, omissões, para mirar a luz. Quem admira busca com o outro o caminho e, ao menos, dispõe-se a enfrentar com ele as sombras e os efeitos do tempo e da distância. 

A admiração não se nutre da eternidade ou da efemeridade, mas sim da intensidade do tempo gravado na companhia humana (do outro e de si mesmo). Para a admiração, não há fórmulas, trejeitos ou roteiro e quem admira sempre acaba quebrando cláusulas contratuais.

Na música One moment in time, também está refletido o significado da palavra admiração: o instante do tempo em que o eu se dá conta de que “I'm only one, but not alone” e se dispõe a, junto a outros alguéns, buscar “the finest day” que “is yet unknown”.



One Moment In Time

Each day I live
I want to be a day to give the best of me
I'm only one, but not alone
My finest day is yet unknown
I broke my heart for ev'ry gain
To taste the sweet, I face the pain
I rise and fall, yet through it all this much remains
I want


One moment in time
When I'm more than I thought I could be
When all of my dreams are a heart beat away
And the answers are all up to me
Give me one moment in time
When I'm racing with destiny
and in that one moment of time
I will feel, I will feel eternity


I lived to be the very best
I want it all, no time for less
I've laid the plans
Now lay the chance here in my hands
Give me


chorus


You're a winner for a lifetime
If you seize that one moment in time
Make it shine
Give me


chorus


i will be, i will be free

Um Instante No Tempo

Cada dia que vivo
Eu quero que seja um dia para dar o melhor de mim.
Eu sou única mas não [estou] sozinha,
Meu melhor dia ainda não é conhecido.
Eu quebrei meu coração por cada ganho,
Para provar o doce eu enfrentei o sofrimento.
Eu levanto e caio, mesmo assim, em meio a tudo, isto persiste...
Eu quero


Um instante no tempo,
Quando eu for mais do que pensei que poderia ser,
Quando todos os meus sonhos estiverem a uma batida de coração de distância
E as respostas couberem todas a mim...
Conceda-me um instante no tempo,
Quando eu estiver correndo com o destino,
Então, naquele instante do tempo,
Eu sentirei, eu sentirei a eternidade...


Eu tenho vivido para ser a melhor,
Eu quero tudo, não há tempo para menos.
Eu tracei os planos,
Agora tenho a chance aqui nas minhas mãos.
Conceda-me


Refrão


Você é um vencedor durante uma vida
Se você aproveitar aquele instante no tempo,
Faça-o brilhar...
Conceda-me


Refrão


Eu serei, eu serei livre

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