24 de dezembro de 2015

Pecados de Natal: uma cartinha para o Bom Velhinho

Foto: Cláudio Eufrausino



Cartinha
Por Clistarco Sepúlveda



Resolvi cometer inúmeros pecados esse ano: pelo menos uns dez
Pra conseguir ninar o bom menino que não me deixa acordar em paz

Peco por luxúria interrompida
Será que é pecado o fato de meu olho te desejar ardentemente enquanto meu toque te remete escandalosa ternura tão somente?
Ou o quase infarto de meu abraço quando te encontra por acaso nos becos sem saída do destino

Peco por pedir desculpas por te achar bonito,
Por ter coragem de acreditar que tu achas o quase mesmo de mim

Peco, senhores, por não sentir preguiça de amar
Por marcar e comparecer
Por desmarcar e comparecer
Por não ir e comparecer: em espírito e verdade e meias verdades, tantas vezes talvez


Peço não ter medo de que fujas do meu Eu Te Amo
Ter coragem de acreditar que não tens medo de mim
Deve ser pecado também eu acreditar que posso te amar como quem te admira sempre
E, de quando em vez, dormirá contigo o sono dos que passam a noite em claro


Deixei a Estrela Guia pra ti no Zap e também o primeiro trecho de A Metamorfose de Mim
E pequei por te deixar sem palavras e ficar com raiva por teres somente visualizado a mensagem
Qual a penitência pelo pecado de reescrever a primeira pergunta desse texto:
Será que você é capaz de perdoar o fato de meu olho te desejar ternamente enquanto meu toque te remete caudaloso desejo tão semente?


Peço para começar a experimentar a sensação de não ter medo de me sentir desejado
Para desmentir o adjetivo de louco que afixaram no letreiro da minha luz
Peço, principalmente, para absolver o meu Eu Te Amo


Peco por entender que amar não é uma psicose
E que meu olhar insiste no alvo porque é uma metáfora do meu não desistir do amor
Peco por sair do asilo onde nunca entrei,
E por começar a encontrar o caminho de volta para que meu corpo dance africanamente

Ou dulcemente como uma valsa

Ou ousadamente como um tango entre dois homens, ou duas mulheres,
Ou entre um homem e uma mulher que não fecham as portas à diversidade

Peco por não mais querer sucumbir à repressão da pseudo-virilidade


Peço para acreditar que todos precisam de um bom Bom Dia e de um abraço apertado
E que o agora não começa depois de amanhã


Peco por acreditar que Cristo é um juiz nascido para não julgar
E cujo maior milagre foi mostrar que a existência humana é o verdadeiro milagre

E que dignificar uns aos outros é a ressurreição e a vida
Peço para acreditar (com chuvas ocasionais) quão possível é ao ser humano absolver a si mesmo


  
P.S.:

Pedi à Estrela de Belém de São Francisco que importasse
Dos aperreios de Deus a memória das travessuras do Menino Jesus:
Algum milagre descompromissado com a causa da salvação
Feito só para ver os olhos de Maria brilhando: não pelo milagre,
Mas pela existência de Cristo
Maria agradeceu tanto aos bois por emprestarem sua manjedoura de luxo para

Àquela criança refugiada.

Mas essa é uma outra história...

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