18 de março de 2015

A "nogueira" do beijo babilônico de Fernanda Montenegro e Natália Timberg

Reprodução de postagem do Facebook, criticando cena da novela Babilônia, da Rede Globo 


A discriminação é coisa que não presta, mas a “”DISCRIMINASSÃO” é algo ainda pior. Li algumas críticas ao beijo entre as personagens de Natália Timberg e Fernanda Montenegro. O direito à crítica é, por certo, algo não só constitucional, mas natural, tendo em vista que a condição humana primordial é a crise, independentemente das Operações Lava Jato da vida.

Mas, o que inspirou essa postagem foi ter lido uma crítica do Facebook que dizia que o beijo entre as atrizes era uma “nogueira”. Acredito eu que o crítico “especializado” quis dizer que o referido beijo era uma “nojeira”. Pelo lado áureo da Força, façamos uma pausa para resgatar um trecho da declaração de amor de Clarice Lispector à Língua Portuguesa:

Esta é uma declaração de amor: Amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope. (Continua...)

Como se percebe, o exemplo que trago das terras d’Além Faceboook rema contra a maré da declaração de Lispector. O crítico, autor do “neologismo” “Nogueira”, sacrificou o Português duplamente, pois além do erro crasso, utilizou nosso idioma não para remover a capa de superficialismo das coisas, mas sim para reforçar essa capa.

Certamente, talvez, serei chamado de purista pelos defensores do império da variação linguística. Assumo o risco, pois o objetivo principal da teoria da variação linguística é combater preconceitos. Portanto, acredito que a “Nogueira” é simplesmente um erro grotesco escrito sobre as linhas tortas da “AUMA” do cidadão.

Em algum outro texto, referi-me à terrível profissão que estava despontando no mercado, tendo como escritório as redes sociais. Trata-se do Vigilante de Cu (VC). Não o confundamos com os Vigilantes do Peso. Nada a ver.

Os Vigilantes do Cu alheio não têm tempo para consultar um dicionário antes de escrever suas nojeiras, mas têm tempo de sobra para tocaiar a vida sexual dos outros. Acho que vai ser preciso convidar a filósofa Valesca Popozuda para fazer uma participação especial na novela Babilônia cantando Beijinho no Ombro pra ver se ameniza o recalque dos VC.

Não é preciso ser um especialista em Teorias da Comunicação para entender que aquilo a que assistimos não nos torna replicantes. Não é porque assisto à porquinha Pepa, que virarei uma porca. Não é porque assisto “Fala que eu te escuto”, que virarei Edir Macedo. Essa ideia de que novelas prostituem ou transformam heterossexuais em homossexuais é fruto da ignorância, enraizada em nossa cultura, de que a orientação sexual é um tipo de religião à qual se adere, por meio de uma espécie de conversão. Outra versão dessa ignorância está na ideia de que a homossexualidade é uma doença e que a heterossexualidade é o estado “normal” de saúde.

Muitas pessoas utilizam as redes sociais para dar formato textual a instintos irrefletidos nas horas vagas e nas ocupadas também. Tanta polêmica em torno de um beijo quando polêmica maior deveria haver dentro das famílias antes de optar por colocar os idosos em asilos, livrando-se do “fardo” da velhice, cada vez mais pesado numa sociedade que cada vez mais teme a morte e arrefece o narcisismo. Além disso, vale a pena pensar no que seria essa suposta entidade denominada “Família Brasileira”. Existem simplesmente famílias: com todas as suas crises e contradições e esse conceito de “Família Brasileira” parece ser mais uma abstração destinada a propagar moralismos, boicotando a reflexão sobre os valores.


Pra não dizer que não falei das árvores, lembremos que Nogueira é uma árvore, de onde se extraem nozes (que não é o plural de Nó). Coitada da árvore. Ela não ficara assim tão triste desde que viu, em algum lugar da Judeia, um jovem profeta amaldiçoar sua prima Figueira.

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