4 de maio de 2013

Me perguntaram qual era o limite do amor:



El Bodegon - Art Tz'utujil/Coletivo Artwork Campero


Como se comportar num restaurante fino
Por Vidal


O limite é a palavra,
Mas a palavra para mim é como um véu de seda pugilista
Ou uma sonata capoeirista
É muito difícil achar nela (a palavra)
A medida certa do carinho ou do insulto
Isto, tendo em vista
Que quando insulto não quero ferir nem destruir
Quero somente aplicar uma demão de elixir sanativo
Que arde
Mas, tu não percebes que, mesmo por trás da porta fechada,
Meu sopro te atinge?
Ele é como uma encomenda que mando através dos anjos
Que me fazem a gentileza de entrar de penetra onde te encontras
E bater as asas destilando delicadeza e conforto
No filtro do temporal refugiado em teu acanhamento

Quando ouvi teu sorriso por trás da porta da Nova Aliança
Chorei, de contentamento, por ver que Deus não tinha abandonado a mim e a minha súplica
E, a despeito da minha falta de limites, Ele continuava me dando o dom de tornar os muros inúteis
E enxergar através do tempo, da distância, das feridas e das opiniões alheias irrefletidas,
O quanto és lindo, Nobre e Alguém.

Percebam que minhas palavras talvez beirem a obsessão
Mas acho que não seja bem isso, visto que a poesia não é o prato predileto
Dos obcecados anônimos
Acho que os poetas foram feitos para destrancar a liberdade e esquecer a chave dentro
Do coração
O meu limite é a nota aguda da esperança
De que possas estar visitando minhas palavras
E revisitando meus silêncios
E tresvisitando minhas entrelinhas

A única coisa de que sou perseguidor
É do direito de ninar a palavra nos braços do sonho despreocupado,
Sonho com vestes de água corrente e límpida
Com jeito de galáxia despreocupada
De supernova que ao som de uma bossa antiga
Esquece-se, pelo amor de Deus, de qualquer compromisso
Com o relógio de ponto
E que, a despeito da maioria, adora as segundas e quartas

Meu limite é a palavra que tenha o direito de sentir o sol
Em seu enigma
E o vento em sua transparência
Independente de estar andando de avião, trem, carro ou bicicleta,
Independente de ter pernas e braços
Meu limite é a palavra que, quando começa uma viagem,
Dá início a um abraço de ida e volta e transvolta
O limite é chegar à cristalina Boêmia e, na mesma hora, o mundo chegar a mim, chegar em mim

Sinto-me elegante em saber que frequento o restaurante-palavra,
Lá onde não é precisso arrotar arrogância para fazer reluzir la plata
Onde a companhia é o maior refinamento:
Uma valsa de Strauss temperada com a paixão de Dalida
E a franqueza de Serge Gainsburg
No restaurante-palavra, a gente se esquece
Do rosto insosso de classe média
Esquece até de comer
E acha doce se intoxicar com Nutella
Ou Coca-cola
Ou com água mesmo
E o prato de saída é a poesia
E a felicidade de ver Deus destilando
O revigor
No coração de quem amamos
El Condor Pasa

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