7 de junho de 2012

Ilustres escritores desconhecidos: Vida L'Eau e A última primeira vez parcelada em cinco Eu-te-amos

Primeira vez - by Clécio Vidal







A aura feita de esmeraldas no sonho

Um conto de Vida L'Eau'Clauvius



Capítulo 1 - Terceira vez

Chegar perto da proximidade dele
É como levantar voo rumo a uma festa surpresa
Preparada para celebrar tua vida
Sem que hajas sido sequer (mal-me-quer?)
Convidado

Por que recebi o dom da quiromancia?
Dom com fratura imposta.
Fui obrigado a ler nas duas mãos esquerdas de Deus o nome dele
Muito obrigado, Senhor!:
Foi amor à pré-primeira vista, à segunda, terça,
Sem direito a sétimo dia

Como conheço o nome dele pelo rosto
Ou, talvez, o rosto dele pelo nome
Vivo me reapaixonando
E recebo o salário da graça, da desobrigação
Pago por aquele olhar,
Dividido em cinco vezes de uma vez só e acompanhada por sua solidão:
Primeira vez: de uma trava de amargura-alerta
Segunda vez: de indiferença que se lava as mãos na chama do vulcão mais próximo
Terceira vez: de um sarcasmo dignificado por espasmos de elegância sutil
Quarta vez: de uma altivez que largou, por terra, qualquer (bem-me-quer?)
Sentimento reptil
E fez instantâneo uso capião
Da pupila de uma águia, onde se esconde um “Era uma vez”
Quinta vez: de doçura avistada de longe
Nas terras de uma timidez antepassada e de uma ranzinzice antefutura
Sexta vez:

(Nem sei como consigo olhá-lo
Se o olhar dele meio que apaga meu rosto
E me força a reescrevê-lo.
E, assim, sigo livre, mas sem ter conseguido tirar dos ombros,
O peso das galés)

Depois deste parêntese, escolho voltar para a quinta vez do teu olhar,
O olhar de doçura à vista
Quero colonizar este olhar
Com meu exército de preces maculadas pela urgência da constância
Preces lentas e cruéis
Que dividem o pedido em cinco vezes:
Premier fois: pela felicidade que se apelida saúde e paz
Deuxième fois: pela felicidade capaz de fazê-lo livre para pensar em mim
Antes de dormir, de me visitar durante o sonho
E de estar ao meu lado depois da realidade
Troisième fois: pela felicidade que a palavra consegue não imprimir
E o silêncio ab-ruiu* mão de exprimir
Catrième fois: felicidade que faz os clichês do amor nascerem calçados
No horizonte do mistério
Cinquième fois: felicidade capital
Quinta vez:


* ab-ruir: mais que ruir; mais que à rua ir, mais-que-sorrir.

Capítulo 2: Quarta vez

Soube hoje que faltavam somente dois encontros para que ele deixasse de se permitir ser visto por mim. Foi quando meu coração assumiu como nome próprio seu apelido dor.
Tentei estar perto dele como ridículo
Como sábio
Como Incapaz
Como anjo
Ao cabo, percebemos, eu e minhas caravelas,
Que nem um perito em caminhos, nem uma Dafne triplamente qualificada
Conseguiria vencer a distância que a proximidade dele impõe.
Antes da largada, ele consegue estar a vários corpos e almas de vantagem
Com relação a mim.
Do alto do primeiro lugar do pódio, ostento o fardo de ouro que ornamenta meu peito
Consegui deixar até mesmo o tempo em segundo,
Mas é tentativa vã perder a distância que entre nós se põe a nascer
Mesmo assim, saber que ele está no mundo, na mesma época que eu,
Saber que ele está no mundo é como um sonho
De alguém que dorme com um olho aberto e outro fechado

Ele sacou aquele aperto de mão
E sua formalidade me feriu a queima-alma

Capítulo Trois: Segunda vez

Chegar perto dele:
Três impossíveis encadeados sintaticamente

Capítulo Quatro: Quinta vez

A primeira vez é-foi-será como um tornado
Que com uma das mãos rema o passado,
Que, de tão silenciado,
Sempre terá algo a dizer
E, com a outra mão, rema o futuro
Num mar que o tempo ainda não teve tempo de esculpir
E com a outra mão rema os impossíveis,
Os inimagináveis, os inconciliáveis: os improibíveis
A segunda vez:

Capítulo Cinco: A dernière fois

Contei a uma amiga como havia sido o sonho
Eu estava com vergonha
Porque tanto a narrativa quanto o sonho
Eram de corassão
Mas, minha vontade de faltar com a vergonha eu já a conhecia de cor e me salteou.

No sonho, ele dormia na areia
Como fosse uma estrela sem teto
Que havia decidido, às pressas, deitar ao relento
Na Via-Láctea

A aura do sono dele dividia-se em minutos, segundos...
Os minutos eram esmeraldas brutas
Os segundos esmeraldas despojadas
Os milésimos esmeraldas de um ardor
Que, talvez, o imponderável consiga descrever
E a tensão das superfícies consiga captar

Ele me despede,
Mas a aura, os minutos...
Não se despedem de mim

Ele me despede em cinco vezes:
Primeira vez: com a hostilidade que se devota a um soldado do campo adversario
Segunda vez: com a profilaxia que se devota a um antígeno
Segunda vez: com a formalidade que se devota a um anfitrião convidado a se retirar
Segunda vez: com o olhar que, daqui a pouco, passará ao meu lado
E rezará uma prece para me ignorar
Segunda vez:

E eu quero me desculpar por garimpar a sua aura,
Os minutos, os segundos, o primeiro: o único
Até achar o “Eu te amo”,
Que para ele dividiu-me em infinitos inteiros.


Capítulo Sete: A primeira vez:







A amizade - Françoise Hardy








Última vez - by Cláudio Eufrausino


Noturno (Chopin) - cena do filme O Pianista 



Cena final de Cinema Paradiso



Eu te amo - Chico Buarque

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...