24 de janeiro de 2012

Ilustres poetas desconhecidos III - O futur'amor de Jose Luis Paredis

Esfera de cristal abstrata no horizonte futuro


Jose Luis Paredis é um poeta boliviano. Os poemas, a seguir, foram escritos por ele no fim da década de 50 do século XX. Paredis não teve tempo de se tornar conhecido. Escrevia esporadicamente para alguns jornais da Bolívia, mas deixou de ser poeta de repente, passando a dedicar-se exclusivamente ao artesanato. Mudou-se do país com a família e tudo o que se sabe dele, desde então, é que faleceu em 1969. Sua poesia cria uma tensão entre o cinismo e a esperança, com uma aproximação do humor.


Futur'amor - poema de 1959

Meu futuro amor
Eu já o vejo, mais presente que o agora embrulhado pelo papel da evidência
Ele é embaixador no país da minha fé
Com ele sou o que nunca pôde supor meu espelho
O que meus diários não foram capazes de esconder
O que de mim meu epitáfio tentou ser memória, mas falhou.

Ainda não pude achar onde o futuro se esconde
E, antes que eu contasse até  -1, ele já se havia perdido de mim

Mas, meu futuro amor me encontrará
E não terá vergonha do meu silêncio
Da minha tagarelice

Ao lado dele, poderei ter voz e ter silêncio
Sem que eles me sejam uma obrigação, um fardo, uma pena
Dentro dele, não terei vergonha do meu sonho
Nem do meu despertar

Meu futuro amor, ainda não vejo bem seu rosto por trás da névoa
Mas ele é lindo como me faz ver o sol do seu mistério.


A ponte - poema de 1958

Estou triste
Mas, mais do que triste estou vivo
E, enquanto há vida, a tristeza e os demais sentimentos
Têm direito ao contraditório

Quem amo não me vai amar
Meus temores vêm em ondas terremóticas:
Olhares de inveja escancaram-me risos debochados

Todos da festa me convidam para fora, não sem antes apagar minha lamparina
Todas as bocas são para mim Não, sem talvez
Todos fingem que não existo e se esquecem de que estão a fingir

Mas, mais do que temeroso estou vivo
E, após a vida, existe a promessa de eternidade
E o au-de-lá não precisa mentir
Pois quem mente é porque tem medo de ser conhecido
E o au-delá não precisa temer
Porque é ele que doa o “cumpra-se”
Às promessas
O “Espere firme”
À fé
O “Suspeite”
À vitória
O “Suspeite”
À derrota
O “Por que não?”
Ao milagre

O erro é refém do meu calcanhar
Mas, estou vivo e um dia vou morrer
Então, se a ponte continua tendo dois lados: Viva, ora pois!

Conheça a prosa de Jose Luis Paredis aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...