16 de novembro de 2010

Violência contra mendigos e policiais, a dupla face do anonimato e o temível exército das benditas Virgens Marias Negras

Virgem Negra de Czestochowska.
Fonte das imagens desta postagem: Wikimedia Commons


Uma senhora alagoana, mendiga e de idade avançada, não se lembrava de quem, como, quando ou por quê. Só se lembrava de ter sido atingida por uma pedrada na cabeça enquanto fazia uma pausa em sua jornada pelas ruas. Ela escapou de ser a trigésima terceira moradora de rua a ser exterminada em Alagoas este ano.

Na cidade de São Bernardo do Campo, uma câmara de vigilância fornece praticamente o lead completo de uma matéria sobre a violência contra um policial: um rapaz, de vinte e quatro anos e com planos de se casar em breve. Poderia ter matado o ladrão, mas não o fez. E, ao tentar imobilizá-lo, caiu no chão, sendo morto, a seguir, com vários tiros.

Mendigos e policiais estão sendo vítimas de um estranho mecanismo de identificação. Criminosos estão formando uma auto-imagem que combina anonimato e brutalidade: sendo a brutalidade uma estratégia para compensar a frustração e criar um ilusório e impossível equilíbrio para a balança da impunidade.

Mas, o anonimato não é necessariamente covarde. Grandiosas demonstrações de ética e altruísmo elegem como personal stylist o anonimato. A dupla face do anônimo é bem representada pela Virgens Marias Negras.

Estava enganado ao pensar que Nossa Senhora Negra era patrimônio exclusivo do Brasil. A Mãe Aparecida foi encontrada no fundo de um rio. Contudo, outras madonas negras também vieram de profundezas como descreve a wikipedia: achadas em catacumbas, criptas e abismos.

Estas expressões de Nossa Senhora, ao representar a esperança gerada no ventre das profundezas, subvertem o senso comum que associa o "de profundis" ao inferno. Outra ironia é o fato de as imagens de madonas negras aparecerem em lugares de etnia predominantemente caucasiana, a exemplo de Nossa Senhora de Altötting, na Baviera. Na França, ocorrem diversos casos, como N. S. de Rocamadour, N. S. dos Anjos em Boulogne-sur-mer, N. S. dos Milagres em Orléans, de São Vitor em Marselha, além da Virgem Negra de Toulouse.

As madonas negras podem ser relacionadas à proteção das minorias, como, no caso de Nossa Senhora Aparecida, eleita defensora dos escravos. Por extensão, são concebidas como defensoras dos anônimos, dos esquecidos.

Maria, que, biblicamente, é descrita como mulher de dores e silêncio, que guarda tudo o que lhe acontece, meditando com amor, é também simbolizada como mulher vestida de sol, um temível exército em ordem de batalha. Representa os "soldados" sem armas, que lutam, no silêncio, pelo resgate dos esquecidos, dos que, ao olhar dos holofotes da mídia parecem ter morrido em vão.

As mães em busca dos seus filhos desaparecidos, as que tiveram seus filhos assassinados, a exemplo das mães da Candelária, no Brasil, cabem na noite estampada no manto da Virgens Negras. Talvez não seja por acaso que uma das madonas negras seja a Virgem negra da Candelária, presente tanto na Colômbia quanto em Tenerife.

A imagem de Nossa Senhora Aparecida foi achada com o corpo separado da cabeça, precedendo o milagre da multiplicação dos peixes. Representa, dessa forma, o sopro de esperança e fecundidade que vence a tortura e a violência fundadas na exploração de um ser humano por outro.

Esta postagem é uma tentativa de orar – e, portanto, de denunciar - pedindo a intercessão das Virgens Negras, advogadas de defesa da justiça anônima e advogadas de acusação do anonimato covarde e cruel, veiculado por câmeras escondidas, pelo bullying (tanto presencial quanto virtual), pelo terrorismo e outros tipos de violência rotuláveis, mas as quais não se é capaz de nominar.


Virgem Negra na Áustria.


Nossa Senhora de Altötting.

Nossa Senhora de Aparecida



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