16 de maio de 2017

Por que o discurso de Diogo Mainardi escolheu mandar Reinaldo Azevedo ir dar a bunda?

Fonte da imagem: Jornal O Tempo


O jornalista Diogo Mainardi fechou um debate de ideias com o jornalista Reinaldo Azevedo, sobre a conversa entre o ex-presidente Lula e o juiz Sérgio Moro, com o imperativo: #VaiDarABundaReinaldo.

Por que o imperativo “Vai dar a bunda” é considerado algo de tanta a força a ponto de ser eleito “chave-de-ouro” de um debate?

Num contexto em que os arquétipos masculino e feminino estão se reescrevendo, a resistência conservadora se expressa por meio de discursos de poder ancorados num dos conjuntos de imagens mais recorrente ao longo da história: a imagem do passivo que é aniquilado pelo ativo.

Esse repertório imagético atualiza, na forma “dócil” da contemporaneidade, as torturas baseadas no retrato do coito como destruição do aparelho genital de quem ocupa a posição passiva na relação sexual.

Isso fica mais claro quando pensamos no grande número de situações negativas traduzidas por expressões como: “Tomou no cu”, “Está fudido” e “Arrombou-se”. Expressões como estas continuam sendo utilizadas como senha desesperada para definir os redutos onde “homens” e “mulheres” devem circular.

E assim, as mulheres, por mais bem-sucedidas que possam ser em diferentes campos, não serão bem-sucedidas se “lhes faltar levar rola”. De forma semelhante, um homem que faz sexo com outro é considerado homem nas horas úteis de trabalho, desde que traga lucro ao empreendimento. Mas, nos bastidores, é despido de sua hombridade e convertido na figura de “arrombado”.

Aliás, num contexto em que as posições sociais não conseguem mais ser orientadas pelas posições ocupadas na cama, resta ao machismo (seja ele masculino ou feminino, hetero ou homossexual) maquinar a subjugação do “passivo” nos bastidores, por meio das entrelinhas do discurso, das indiretas pontiagudas, aludindo à dolorida retomada de uma história em grande parte baseada em relações de estupro do corpo e da alma.

No artigo Os dispositivos de poder e o corpo em Vigiar e Punir, publicado no número 3 da Revista Aulas (2006/2007), a filósofa Saly da Silva Wellausen  reflete, como denuncia o título do texto, sobre a noção de poder na “obra” de Michel Foucault.

Em um dado momento, Saly sintetiza a relação entre poder e subjugação do passivo: “o poder instala-se na horizontalidade do sujeito individualizado, modelando seu corpo até a passividade”.

No contexto atual, percebe-se um tipo de oscilação entre o que Foucault chama de poder-saber, exercido por meio das técnicas e discursos, e a utilização da violência pura e simples: o poder que para se impor aniquila sua própria “natureza”: a estratégia.

É o caso do linchamento, o terrorismo e outras formas de aniquilação onde a recorrência ao efeito-surpresa eleva à mais alta potência  a afirmação de Foucault, parafraseada pela filósofa: “o poder produz o real antes de reprimir, o verdadeiro antes de ideologizar, abstrair”.

Contudo, o poder-saber segue firme em seu impulso geográfico de mapear os espaços onde as pessoas podem existir e as formas de existir. Essa definição é feita por meio da mobilização de discursos para definir qual o “quadrado” de cada um e se esse quadrado é ou não arrombado.

Uma vez no programa Os Pingos nos ii, de Reinaldo Azevedo, na rádio Jovem Pan, ele tocou um trecho da música Coração Ateu, composta por Sueli Costa, e cantada por Maria Bethânia. E falou que a matéria-prima da reflexão é por excelência o amor. Refletir sobre política é a falta de alternativa diante das mazelas sociais.

Fiquei pensando se ele não teria visitado este blog, tendo em vista que visitei o dele com um comentário (que ele apagou) e deixei lá o endereço do meu blog. #ProntoEspeculei.

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