12 de outubro de 2016

Utilizando a poesia para memorizar técnicas de Aikidô



Arte: Rute Patriarca




Alerta: Qualquer semelhança com acontecimentos reais é quase mera coincidência.


Lembro que quando estava pra fazer o primeiro exame de graduação do Aikido, minha dificuldade de decorar os nomes das técnicas fazia o Japonês parecer Grego

Então eu, cá com minha eterna faixa branca, pensei: vou utilizar a região criança-poeta (e, por que não louco-apaixonada?) do meu cérebro e, por meio de imagens poéticas, tentar facilitar a memorização das técnicas

Antes de mais nada, um prefácio:


  • Técnicas que têm por sobrenome “nagê” envolvem a projeção da pessoa sobre a qual a técnica é aplicada
  • Daí, por eliminação, as outras técnicas vão envolver a imobilização de quem recebe o kata (técnica)


Irimi Tenkan

É, poeticamente, conhecida como técnica da bandeja. O nagê (quem aplica a técnica) desliza rumo às costas do ukê (quem recebe a técnica) e, girando o quadril, desliza-se a perna para trás como se ela fosse um compasso que, girando, faz metade do mundo, isto é, um hemisfério. Ao fim, o nagê estará em posição espelhada com o ukê, sempre lembrando de manter os braços estendidos (dobrar ou tensionar os braços represa a energia do movimento),  oferecendo, de bandeja, o amor que se traz dentro de si.

Irimi nagê

O Irimi nagê, pode ser, poeticamente, associado com o verbo Dormir: “Dormir nagê”

Por meio desse kata, deslizo rumo às costas do ukê a fim de catar a cabeça dele e fazê-la dormir no meu ombro, enquanto giro como um compasso (o mesmo compasso que ajuda a desenhar o Irimi Tenkan), completando o poético desequilíbrio.

Depois, antes que o ukê tenha tempo de perguntar o que tá havendo, suspendo o queixo dele apoiando-o na dobra interna que separa meu braço do antebraço  e o levo ao chão. A música de fundo para esta técnica é o clássico sertanejo: “Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora”.

Shiho-nagê

Eu, particularmente, elegi como imagem, para decorar o Shiho-nagê, a de um jogador de Baseball segurando o taco, preparado para receber o lançamento da bola.

Fazendo as devidas adaptações poéticas, o braço do ukê funciona como o taco. Depois de “rebater” a bola imaginária (a esfera de energia resultante da sinergia entre ukê e nagê), aponto o taco (braço) para o meu pé, deixando-o descansar: final da técnica.

Shomen uchi Ikkyo e Nikyo 

Pelo nome, percebe-se que não são técnicas de projeção. Pertencem ao grupo das técnicas de imobilização. Quem aplica o kata acompanha a pessoa que recebe a técnica do início ao final, onde acontece a imobilização

A poesia mais rudimentar me diz que “Shomen” é algo similar a “Tome!”, imperativo utilizado por quem se prepara para partir o outro ao meio com uma espada ou rachar o cocuruto do outro com uma tora de madeira, por exemplo

No caso da imobilização Nikyo, a versão urá (desenvolvida com um giro dado por trás do ukê) requer que o nagê abrace o punho do ukê contra seu peito, cumprimentando-o. Em seguida, finaliza-se a técnica com um Irimi Tenkan.

Katate dori Kaiten-nagê

É a técnica de projeção em que o nagê transforma o braço do uke num arco (tipo o Arco do Triunfo, na França), passa por baixo, fica em paralelo com o ukê e depois o projeta como quem arremessa uma bola de boliche, mantendo-o sempre juntinho ao corpo

A aplicação da técnica começa com um atemi, movimento que Wesley Safadão traduziu para o Português como “Olha aqui pra minha mão!”.

Na hora que o avaliador do exame solicita a técnica, penso logo no atemi, como se, na minha mente, enquanto aplico o atemi, eu dissesse ao uke: Cai!


Katate dori Kokyu-nagê

O nagê faz um Irimi Tenkan, colocando-se em paralelo com o ukê e, aí, projeta-o para frente com um giro de quadril. Dá pra diferenciar do Kaiten-nagê pelo fato de a técnica não requisitar o atemi (o imperativo mental: Cai!)

Katate dori Kokyu Ho

O princípio é o mesmo do Irimi Tenkan. Não é propriamente uma técnica de projeção. Também não é uma técnica de imobilização. Parece ser uma exceção, pois é finalizada com um movimento que imita o gesto de, com uma espada, dividir o tronco do ukê em duas bandas. Ao final, o nagê estará posicionado com as mãos estendidas, como quem oferece algo ao ukê numa bandeja.


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