17 de fevereiro de 2014

A lua que morde e assopra

Malcolm Park (North York Astronomical Association)



Retina
José Luis Paredis

Quis roubar de minhas retinas a lua cheia nelas gravadas
Mas, não sei se teria coragem de te presentear com o produto do roubo
E correr o risco de que com ela venha junto minha cegueira, meus ontens
Tão difíceis de cicatrizar, de cumprirem seu papel

Além disso, falta à lua cheia roubada as mãos dadas
Uma lua roubada é minguante de abraços
E incapaz de se tornar lua nova
Quando deixo descansar minhas ilusões
No retorno tranquilo que bate no centro de teu tórax
Quando deixo adormecerem as desilusões
Na comovente tempestade que encontra consolo em teu peito

Meu bem, quando chegará o dia em que a lua gravada em minhas retinas
Poderá ser sem-vergonha de iluminar a dança dos que se amam e
Que são proibidos de dar beijo de foca à luz do sol?

Não sei quando a lua que impressiona meu nervo óptico
Será capaz de se desenredar das forcas que nadam
Na dor cansada dos meus mares em preto-e-branco

O amor me costumava ser puro e simples
Calma que escoltava a esperança e a fé pelos desertos da idade adulta
Mas, nas mãos de teus meio-silêncios
Meu amor foi internado como louco
Temido como um tirano
Rido como um palhaço clarividente, que não se enxerga
Repugnado como um corrupto vestido de lixo e de linchamento

Quando a lua fez uso capião de minhas retinas
Trouxe para meu quarto a crescente dor da tua lembrança
E o alívio da tua saudade
E espero ansioso pelo dia em que esta lua que morde e assopra
Caia de madura, deixando um pouco de suavidade se quer
Escorrer pelas brechas dos abraços não dados

Paralisados e boquiabertos diante do brilho áureo dos beijos futuros



Porque Marly Marley merece um pouco da lua gravada nas retinas.

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