4 de julho de 2012

A Lua Brega, a lua erudita, a indecisão de Fábio Jr. e a decisão da Vitória-Régia



Ilustração da lenda da vitória-régia - Fonte: blog A Mágica da Abelhuda


Hoje, viajando de Caruaru a Recife, a Lua se encheu de vez, a ponto e vírgula de perder o controle da direção e quase se chocar no meu carro.  Tentei consertar as coisas, subornando-a com alguma poesia, mas quando procurei num dos bolsos só achei milhões em mediocridade real. No outro bolso, inda bem que achei alguns tostões de breguice mal citada, o suficiente para falar sobre a Lua brega.

Fico devendo para outra lua cheia escrever sobre a lua erudita, pois praticamente toda minha erudição vem de empréstimos e doações e será preciso angariar fundos para falar eruditamente sobre a Lua. Aliás, uma forma de, quem sabe, definir a erudição é como um empréstimo cujos juros são a dívida eterna. A erudição é, citando a escritora Patrícia Tenório, uma lua que amanhece em nós o que em nós não há.

A Lua Brega é como um ímã que sai arrastando, no fio de algum clichê, fórmulas de amor, saudade, dor e talvez et ceteras.  No brega, cabe sempre a ilusão de que podemos tornar a palavra grande o suficiente para exprimir o inexprimível. Mas, como sabem aqueles a quem interessa saber, quando o fio do clichê é descascado, alguma surpresa galvanizada termina desmoralizando a mais brutal mesmice.

Há ainda as luas indecisas – que não se sabe bem ao certo se são Bregas ou eruditas – como a Lua de Fábio Jr, que faz o erro de Português soar poético: “Lua cheia, meia, displicente” ( ou, num Português mais bem dizido, meia displicente).

E também existe(e não existe) a lua Mítica, que não está nem aí para a erudição ou para a breguice, a exemplo da lua da lenda indígena da Vitória- Régia, falando sobre a jovem Naiá, que se apaixonou pelo guerreiro Jaci (Lua) e quis abraçá-lo, mergulhando em seu reflexo na profundeza invencível de um rio. 

Com saudade e, para mantê-la junto a si, o deus-guerreiro a transformou numa vitória-régia, planta que acolhe mórbida e poeticamente a Lua em seus "braços".

De qualquer maneira, seja brega ou erudita, a Lua é uma das maiores misericórdias, pois ignora o incidente em Babel e traduz o amor, a saudade, a dor, bem como os et ceteras, em todas as línguas, incluindo as extintas e as que ainda hão de nascer. Há, portanto, quatro tipos de tradução: cheia, crescente, minguante e nova. E cada uma delas colabora para que o idioma do amor seja, em diferentes fases, indecifrável.

A noite é mais acanhada quando falta uma dessas Luas.

Segue o link da Lua de Patrícia Tenório

Para um Nobre Alguém, segue uma versão de Lua brega, uma de Lua indecisa e uma de lua erudita:




Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



Luz da Lua – Ana Bélen


Caí o luar sobre mim
Meu corpo vira um rio
E um arrepio de frio
Faz a noite suspirar
Deixo meu sonho vagar
Num dia imaginado
E nele alguém muito amado diz que veio me buscar
Com ele em minha vida outra história
Onde o tempo me envolve sem passar
Ele vê meus olhos e me fala
Com voz doce assim
Feito agua a correr
As palavras se alinham aos meus pés
Caí o luar sobre mim
Em ondas que se movem
Sobre o meu corpo e de noite
Elas falam de você
Invento em cada dia uma história
Foram tantas que nem posso recordar
Sei que em todas elas teve a lua
Iludindo nos dois, me fazendo chorar
Quando sinto meu sonho acabar
Meu sonho acabar...

Lua que vem - Joana


Lua que ilumina o meu amor conta pra ele
Que em mim a saudade não deixou eu longe dele
E toda vez que eu lembro ainda faz bater meu coração

Lua diz pra ele se lembrar do meu carinho
Que nada mudou nem mudará nossos caminhos
Que ainda eu acredito nesse amor escrito em minhas
mãos

Refrão - Vem, lua que vem
Lua crescente traz urgente quem amei
Traz pra ficar
Pode levar lua minguante de saudade
E me ilumina também
Lua que vem
Vem lua nova traz de volta o que é meu
Anoiteceu
Mas nosso amor traz lua cheia de saudade
Eu sei que ele não me esqueceu

Lua que ilumina o meu amor conta pra ele
Que em mim a saudade não deixou eu longe dele
E toda vez que eu lembro ainda faz bater meu coração

Lua diz pra ele se lembrar do meu carinho
Que nada mudou nem mudará nossos caminhos
Que ainda eu acredito nesse amor escrito em minhas
Mãos.



Lua Branca
Chiquinha Gonzaga


Ó, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda . comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim



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