O Carnaval reforça minha convicção de que existe mais beleza no mundo
Do que os cálculos fazem supor
Em suas raízes, a palavra Cálculo significa Pedra
E, se não for assim, que o seja nesse poema:
Agridoce margem de erro
O calculismo pode induzir a achar tudo feio,
Com exceção do que é eleito para ser perfeito
Para desfilar no alto da alegoria que não sabe o que é pisar o chão
Talvez seja isso: o carnaval me mostra beleza onde se pisa o chão
E que eu não caia na tentação de elogiar a miséria que desumaniza,
Reduzindo a beleza ao conformismo: a achar que tudo está onde deve estar
As batidas do Maracatu, do Frevo, do Axé
Sacodem o borralho e desescondem príncipes e princesas
Na passarela-múndi, tem lugar para belezas nunca dantes vistas desfilarem
Belezas que são empurradas para debaixo do tapete da história
A beleza do carnaval mostra leões brotando fora da selvageria
Lanças emergindo fora da guerra, para ferir a tristeza
Ridículos sendo mais sublimes do que sonha a vã prosperidade teológica
Decididamente, não é possível enxergar a beleza que o carnaval desesconde
Quando se está num camarote de marfim instalado no coração de Marte
Por mais próxima e privilegiada que seja a visão,
Ela precisa pisar o chão da folia [alegria, loucura]
Precisa se tornar indigna o bastante pra enxergar a beleza que não é herança
Nem foro privilegiado
Beleza que prefere um mundo cheio de bijuterias que valem
Por sua criatividade e empenho
A um mundo onde só vale o que é ouro e prata: tristes e poucos
A deusa Atena - do bom e justo combate - prefere as bijuterias
Dizem que ela puniu Aracne, por inveja: Fake News
Ela e Aracne são uma só: e muitas
Porque na Casa do Senhor há muitas moradas, namoradas, namorados e namorades
Namor que durma com uma onça dessas!
Toque de Midas?
Toque de mídias?
Me basta o toque do meu Você